5/05/2012

Desabafos da Madrugada - Sangria

Sangria 






É curioso ver
Esse desespero que me destrói
É curioso ver
Como rogo por aquilo que repudiava
É curioso ver
Como as coisas mudam
É curioso ver...

Essa nossa vida é bem curiosa
E antitética
Acaba por nos confundir
E nos questionar
Afinal...

Por que, se só achamos felicidade
Ao fugir da tristeza?
A felicidade, então
É só mais uma droga?
Inatingível?
Alienante?
Uma fuga da realidade?

Amamos fantasias, especulações,
Simulações, Mitos,
Mas a vida, que deveria ser nossa paixão,
É o maior dos medos

Mitos, medos.
O que é o amor?
É um mito?
É fantasia?
Mais uma?

A morte é a única certeza.
Mais certa, ainda, que a vida
"E no teu beijo
Provar o gosto estranho
Que eu quero e não desejo
Mas tenho de encontrar"

Talvez pior ainda que a morte
Seja o adeus
Porque o adeus traz saudades
O adeus traz dor
Sofrimento
"Só porque é triste o fim".

A felicidade é inatingível,
O amor não existe,
A morte é inevitável,
O adeus também.

E a vida?

A vida, cega, surda e burra
O maior dos mitos que criamos
Poderia ser facilmente comparada
A uma grande criança com uma lupa
E nós, as humildes formiguinhas

Use-a para felicidade, tristeza
Para política, para futebol
Para o tudo, para o nada
Para o bem, para o mal
Não fará diferença.
Diga-lhe perfeita, estapafúrdia
Imprevisível, inalterável
Não fará diferença.
Creia-lhe uma dádiva, uma dívida
Não fará diferença.
Busque-a ou não
Não fará diferença.

Então, de que me importa?
Não se sabe nosso objetivo para com a vida.
Não lhe devemos nada
Ela não nos deve nada.
Por que chorar?
Por que sorrir?
Por que continuar?
Se não consigo mais sentir?

E insistimos no mesmo erro.
Teremos as mesmas ilusões.
Sofreremos as mesmas desgraças.
Penderemo-nos nos mesmos becos escuros.
Mataremo-nos.
Machucaremo-nos.
Mutilaremo-nos.
Uns aos outros
E a nós próprios

Me machuco com esse poema.
Me mutilo,
Me odeio,
Me perco,
Me desespero,
Me arrisco,
Me mato com esse poema.

Uso meu sangue para manchar de vermelho o topo e a base dessa página branca
Para banhar em sangue esse poema estapafúrdio
Essa poema vão, tão vão quanto a própria vida.
Tenho tal atitude para tirar de mim todo o mal.
Faço-me uma sangria com esse poema
Para livrar-me de todo esse veneno que corre por minhas correntes sanguíneas
Todo esse mal que me assola.

Ou não é nada disso.

Uso-me dessa escória de poesia
Para dramatizar uma situação banal
E mostrar para todos uma dor que não é real
Para chamar a atenção mundial
Para a situação mais normal
Tendo meus minutos de fama usual
E uma natureza racional
Dentro de uma civilidade animal






Curioso,
Não?!

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